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MACAU: Sem apostadores, a fortuna de Macau foi de mal a pior no Ano Novo

a fortuna de Macau foi de mal a pior no Ano NovoA luta contra a corrupção e a lavagem de dinheiro estão a afastar os grandes apostadores. Previa-se uma quebra de 53,5% nas receitas dos casinos em Fevereiro.

Xu Meihua juntou-se a centenas de milhares de outros turistas chineses que viajaram para Macau, há uma semana, pela ocasião do Novo Ano Chinês. Mas, ao contrário da maioria, não viajou para apostar. Esta contabilista de 58 anos visitou casinos como o Wynn Macau, o Sands China e o SJM, mas para tirar fotografias e olhar para montras. Viajando com o marido e a irmã, Xu Meihua estava mais interessada em ver as vistas do que em gastar dinheiro nas mesas de Baccarat.

“Não planeio, de todo, apostar; não tenho assim tanto dinheiro”, disse Xu, à medida que gravava com o seu smartphone um espectáculo de água numa fonte, a 23 de Fevereiro. “Por que razão arriscaria eu milhares de iuans?”.

Os problemas de Macau estão a ir de mal a pior. A queda nas receitas de jogo registada em 2014 pode tornar-se devastadora. À medida que consumidores de classe média aumentam, os grandes apostadores estão a desaparecer. Os jogadores VIP, como são chamados, estão a evitar o antigo enclave português à medida que este tem vindo a reforçar a luta contra a corrupção e a lavagem de dinheiro. Tudo isto, conjugado com o abrandamento da economia chinesa e com novas restrições sobre o tabaco e a atribuição de vistos, tem vindo a deter um vasto número de apostadores.

Faltaram jogadores naquela que é, tradicionalmente, uma das semanas mais concorridas do ano, o que levou analistas a cortarem as estimativas no sector do jogo para o mês de Fevereiro. As projecções apontam para uma quebra de 53,5 por cento nas receitas provenientes dos casinos para esse mês, de acordo com a estimativa média de oito analistas consultados pela Bloomberg. Este valor supera a quebra de 40% que era esperada desde o início do período de uma semana de férias em Macau.

A confirmarem-se as estimativas, o mês de Fevereiro será o nono mês consecutivo de quedas no sector – é já a série mais longa desde que os registos tiveram início, em 2005. Espera-se que o regulador dos casinos divulgue os dados oficiais a 4 de Março.

Ano da Cabra
O Novo Ano Chinês, que teve início dia 19 de Fevereiro, foi um “péssimo choque” para o sector do jogo em Macau, diz DS Kim, um analista da JPMorgan Chase. As receitas do período de férias foram “uma desilusão para nós, já que estiveram quase 40% abaixo daquilo que prevíamos”.

Embora se antecipasse uma queda no número de jogadores de topo nos casinos – uma vez que estes jogadores tendem a chegar uma semana mais tarde do que o resto dos turistas para evitarem multidões – “chegámos à conclusão de que mesmo a procura premium se manteve muito difusa, sobretudo devido à deteriorada mistura de jogadores”, escreve Kim, que, na sua análise, antecipa uma queda que pode ir até aos 55%, face à de 45% que antes esperava.

Este período de férias, que marca a entrada no Ano da Cabra, evidencia um forte contraste com o mês de Fevereiro de 2014, Ano do Cavalo. Esse foi o melhor mês de que há registo para a indústria de casinos de Macau, que contabilizou receitas de 38 mil milhões de patacas (à volta de 3138 milhões de euros). A contracção deste ano surge mesmo embora se tivesse registado um número recorde de 800 mil turistas chineses, que inundaram Macau nos primeiros sete dias do novo ano chinês.

“Talvez o Ano da Cabra não seja um ano de sorte para os casinos”, disse o analista da UOB-Kay Hian, Victor Yip, acrescentando que os apostadores VIP representam ainda cerca de 60% das receitas de jogo em Macau. “Atrair clientes de classe média mas ter poucos apostadores VIP não vai funcionar, já que não se consegue criar receita bruta”.

Esta recente vaga de visitantes chineses vindos do continente gastou também menos do que as anteriores. Algo que representa também um impacto para os restaurantes e marcas de luxo, centros comerciais e hotéis de topo que os casinos construíram nas suas imediações. Sem contar com as receitas de jogo, a despesa per capita de turistas chineses caiu 32,8 por cento no quarto trimestre de 2014, de acordo com os dados do Governo de Macau.

A média de estadias em hotéis de três a cinco estrelas para a apelidada “Semana de Ouro” do período de férias chinês – que vai de 18 a 24 de Fevereiro – caiu 5,9%, para cerca de 87,5% das estadias. Para além disto, o Gabinete de Turismo do Governo de Macau anunciou a 26 de Fevereiro que o preço médio de um quarto caiu 15,4%.

Analistas olham com esperança para a abertura de novos projectos na via Cotai, em Macau, agendados para o final do ano e a cargo de empresas como a Galaxy Entertainment e a Melco Crown Entertainment. Mas até essas perspectivas se têm vindo a tornar questionáveis face à possibilidade de o Governo de Macau vir a permitir menos mesas de jogo nos novos resortsturísticos.

“Temos em vista um cenário em que o Governo de Macau poderá reduzir a atribuição de mesas de maneira a dar mostras de que leva a sério o objectivo de reduzir o crescimento da indústria do jogo”, lê-se no relatório escrito a 24 de Fevereiro por Anthony Wong, analista do grupo UBS, referindo-se aos receios de equipas de gestão empresarial.

“Acreditamos que uma primeira atribuição [do número de mesas de jogo] para os primeiros projectos poderá ter inicialmente um impacto negativo nos projectos futuros”, lê-se ainda. De acordo com Wong, tendo em conta que os novos projectos têm capacidade para um número que vai de 400 a 500 mesas de jogo, “a mais recente preocupação é a de que os novos projectos consigam bem menos do que 200 mesas”.

Menos mesas de jogo significa menos apostadores. Algo que afecta as receitas. Para além do mais, há outros factores a ter em conta. De acordo com Wong, se se autorizarem mesas a menos para estes espaços, o chão do casino “parecerá vazio e sem energia, o que terá impacto na disposição dos clientes”.

Em Dezembro de 2014, o Presidente chinês, Xi Jinping, exortou a que Macau se tornasse menos dependente dos casinos e se orientasse no sentido de se tornar um centro de lazer e turismo mundial. O combate de Xi Jinping contra a corrupção teve início apenas semanas depois de se haver tornado líder do Partido Comunista Chinês, no final de 2012, e já implicou mais de 100 mil “moscas e tigres”, ou responsáveis de base e de topo, como confirmam os dados oficiais.

A turista Xu Meihua, por exemplo, apoia a acção do Presidente chinês: “Estou orgulhosa do Presidente Xi, porque ele está a fazer algo difícil e importante. Quem sabe de quem é o dinheiro que os tipos nos casinos andam a gastar; se forem altos-responsáveis, podem muito bem andar a gastar o meu”.

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