Retiram os nervos das patas dos animais para não sentirem dores. Se ficarem lesionados, são abatidos a tiro. Se perderem, também. Este é o cenário das corridas de cavalos ilegais da máfia na ilha da Sicília.
Nos últimos três anos, a cidade siciliana de Palermo tem visto aumentar o número de estas corridas ilegais, ao estilo “Velocidade Furiosa” mas em versão siciliana. A Time cita a LAV, uma das maiores associações de defesa dos direitos animais em Itália, para adiantar que desde 1997, a polícia travou 111 corridas, confiscou 1238 cavalos, e levou à justiça 3344 pessoas. Só este ano já houve 46 detidos.
Os cavalos são adulterados, abusados, dopados e forçados a correr até não conseguirem mais. Quando já não servem para as corridas são abatidos. E se, nas cidades da Sicília, as corridas ainda não chegaram aos ouvidos de toda a gente, na Internet não faltam vídeos em homenagem aos vencedores, acompanhados de músicas a glorificarem estes “campeões”.
“Infelizmente, as forças policiais ainda estão a descobrir a ponta do iceberg, pois na cidade isto já faz parte do quotidiano”, conta Ciro Troiano, dirigente da LAV, à Time.
O início das corridas não é sempre à mesma hora. Pode ser de madrugada ou de noite. “É quando os polícias vão para casa depois do turno da noite”, diz Giovanni Guadagna, fundador do Geapress, agência noticiosa para a proteção de animais na Sicília.
Um atraso de poucos minutos na resposta policial é o suficiente para os organizadores das corridas levarem por diante a competição e recolherem os milhares de euros dos participantes. De acordo com a polícia “o valor de uma só aposta é de 80 euros e o vencedor pode sair com 20 mil.
Condutores em scooters, motas e carros perseguem os cavalos, entre buzinas estridentes e gritos, até à meta. As corridas dão-se nas estradas de asfalto. Para evitar lesões e dores nos cavalos, retiram-lhes os nervos das patas. Assim não sentem os tendões a rasgar.
As corridas de cavalos foram muito populares na indústria do jogo italiano. Mas de acordo com Snai (o equivalente à nossa Santa Casa da Misericórdia) – líder do negócio do jogo de Itália – nos últimos 40 anos, muitos estábulos legais fecharam. E campeões de corridas de cavalos foram “despejados” da glória para as pistas de asfalto. Numa manhã de 30 de setembro de 2012, em Palermo, um cavalo foi encontrado morto à beira da estrada com a sua cabeça esmagada. Tinha uma placa pendurada no pescoço com o seu nome: A Dream (“Um Sonho”).
Manter cavalos em estábulos legais não é barato – custa em média 1700 euros por mês – portanto, mantê-los em estábulos subterrâneos em Palermo é o ideal para estes jogadores. As condições são miseráveis: são pequenos, escuros, com águas de esgoto a circular; os cavalos são, normalmente, imobilizados com cordas atadas às paredes para não ocuparem muito espaço. No ano passado foi encontrado um desses estábulos com vários cavalos dopados.
Se a vida deles é má, o fim é ainda pior. Em 2013, a cinco quilómetros de Palermo, na região de Pezzingoli, foram encontrados restos mortais de um cavalo carbonizado. Os investigadores chegaram à conclusão que o animal foi massacrado quando não podia competir mais.
Mas mesmo a morte destes animais pode ser lucrativa: Em março do mesmo ano as autoridades de Palermo descobriram um matadouro ilegal em Ballaró, especializado em carne de cavalo – uma iguaria da zona. A polícia acredita que os criminosos coagiram os vendedores de carne de cavalo a comprar a carne destes animais usados para as corridas ilegais. “É o negócio dentro do negócio”, lamenta Ciro Troiano. “O risco de saúde é extremamente sério para as pessoas, pois estes animais são injetados com substâncias prejudiciais para a vida humana.”
As corridas ilegais têm sido um negócio fulcral da máfia siciliana, a Cosa Nostra. “É notório que as corridas são organizadas pelo submundo do crime”, diz o procurador Amedeo Bertone, em declarações à Time. “No entanto, não é só uma questão de dinheiro, é também, uma questão de diversão. Os chico-espertos sicilianos sempre tiverem interesse nas corridas e apostas de cavalos”.
Fonte: Visão
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